O governo federal estuda a ampliação do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV) com a criação de uma nova faixa de beneficiários. A proposta busca atender famílias que possuem renda mensal entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, um público que enfrenta barreiras no acesso ao crédito imobiliário com condições favoráveis.
Expansão do programa habitacional
Atualmente, o MCMV é direcionado a famílias com rendimentos de até R$ 8 mil, distribuídas em três categorias. A iniciativa do governo pretende estabelecer uma quarta faixa, voltada para a classe média, que frequentemente encontra dificuldades para financiar imóveis devido às restrições de crédito disponíveis no mercado.
O modelo proposto prevê taxas de juros estimadas em 8% ao ano, somadas à Taxa Referencial (TR). Esse percentual, embora superior ao da Faixa 3, ainda se mantém abaixo das taxas praticadas por bancos privados, que chegam a 12% ao ano. Além disso, trabalhadores que possuem saldo no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) poderão obter descontos no financiamento, seguindo o modelo aplicado às demais faixas do programa.
Origem dos recursos
Para viabilizar essa ampliação sem sobrecarregar o FGTS, o governo propôs o uso de R$ 14,3 bilhões do Fundo Social do Pré-Sal para financiar as Faixas 2 e 3, além da estruturação da Faixa 4. A sugestão foi formalmente apresentada ao relator do Orçamento por meio de um ofício que solicita o remanejamento de R$ 15 bilhões das receitas do Fundo Social. Isso garante a sustentabilidade do programa.
Essa proposta não fere as diretrizes fiscais vigentes, pois a realocação dos recursos é classificada como despesa financeira. Isso não compromete os limites do arcabouço fiscal ou a meta de resultado primário. O principal objetivo é reduzir a dependência do FGTS para manter o financiamento habitacional viável.
Impacto do saque-aniversário no FGTS
Especialistas alertam que a modalidade de saque-aniversário tem diminuído significativamente os recursos disponíveis no FGTS. De acordo com o economista Paulo Gala, da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), a liberação de valores para trabalhadores demitidos impactou aproximadamente R$ 30 bilhões do fundo. Atualmente, o FGTS possui cerca de R$ 400 bilhões destinados a programas habitacionais e projetos de infraestrutura.
O governo pretende evitar a escassez de recursos para moradias populares e garantir a continuidade do MCMV. Em 2023, a Caixa Econômica Federal, principal operadora do programa, reforçou os critérios para concessão de crédito, visando manter a sustentabilidade financeira das operações.
Novos parâmetros do programa
O MCMV está estruturado atualmente da seguinte forma:
- Faixa 1: para famílias com renda de até R$ 2.850,00, oferecendo subsídios que podem cobrir até 95% do valor do imóvel;
- Faixa 2: voltada para famílias com renda entre R$ 2.850,01 e R$ 4.700,00, com subsídios de até R$ 55 mil e juros reduzidos;
- Faixa 3: destinada a famílias com renda entre R$ 4.400,01 e R$ 8.000,00, sem subsídios diretos, mas com condições de financiamento diferenciadas.
Caso seja aprovada, a Faixa 4 atenderá famílias que ganham entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, possibilitando o financiamento de imóveis com taxas mais acessíveis para esse público que não se enquadra nas condições de crédito convencionais.
Atualmente, o teto do valor dos imóveis da Faixa 3 é de R$ 350 mil. No entanto, para a Faixa 4, há discussões sobre a elevação desse limite para valores entre R$ 400 mil e R$ 450 mil, com possibilidade de ajustes para patamares ainda mais altos. Além disso, o governo avalia permitir a compra de imóveis usados dentro dessa nova categoria.
Linha de crédito para reformas
Outra iniciativa em análise é a criação de um financiamento específico para reformas residenciais. Durante um evento recente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a intenção do governo de oferecer suporte financeiro para famílias que desejam ampliar ou reformar suas moradias.
Ainda não há definição sobre a origem dos recursos para essa linha de crédito. O governo estuda se o montante pode sair dos R$ 15 bilhões previstos para o MCMV via Fundo Social ou se vem um outro orçamento.
Perspectivas para o setor habitacional
A ampliação do Minha Casa, Minha Vida para incluir a classe média faz parte de um conjunto de medidas voltadas à redução do déficit habitacional no Brasil. O Ministério das Cidades e a Caixa Econômica Federal trabalham na definição dos detalhes da nova faixa, buscando equilibrar as condições de financiamento com a sustentabilidade do programa.
Especialistas apontam que a inclusão da Faixa 4 pode facilitar o acesso à moradia para um segmento da população. Um parcela tem renda superior aos beneficiários tradicionais do MCMV, mas ainda enfrenta desafios para financiar imóveis nas condições oferecidas pelo mercado imobiliário convencional.